terça-feira, 30 de setembro de 2014

Da sabedoria do mundo



O serão tinha começado tarde devido à sobrecarregada agenda familiar. O cansaço já se fazia sentir, com o mais novo adormecido no sofá e a mais velha sem energia para mais do que as conversas que começam por um "e se....", seguido de um "e depois", numa escalada de improbabilidades exageradas e descabias com que tantas vezes os miúdos constroem universos paralelos, regidos pelo disparate e o ridículo, que desafia as leis da física e da razão adulta.

A conversa chegou a um ponto em que, para resumir, muitas pessoas faziam muitos disparates, sem sentido.

Eu, vencido, deitei um 

- "Oh filha, mas isso já era um disparate muito grande...."

Ela olhou para mim com um ar sério, de quem detém, evidentemente, toda a razão do mundo e devolve-me a frase que arrumou a conversa e os meus argumentos:

- "Sim pai, mas temos de pensar nos parvos deste mundo."

Não disse mais nada, mas fiquei a pensar que a verdade é demasiado cruel quando num serão tardio nos atiram com ela à cara, assim mesmo, a seco. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Propostas pedagógicas

O mais novo, cheio de iniciativa propôs uma musiquinha alegre para as suas aulas de música no jardim de infância.
A musiquinha, era esta, na versão original que consta no vídeo. E eu gostava de ser barata para ter visto a cara do professor.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O mistério da fada dos dentes visto à luz do materialismo




O mistério instalou-se entre a dúvida e a crença. O destino dos dentes que depois de um longo período a gingar na gengiva é o centro de uma dissonância entre a razão e a fé, em que o sentido prático, recompensado por umas moedas, uma carta ou um qualquer brinde, faz com que prevaleça a fantasia. Uma fantasia que é reforçada por um materialismo concreto.
A tensão entre estes dois mundos, em que a observação e o pragmatismo validam a fantasia sobrenatural dá lugar à dúvida e esta às mais incríveis explicações, que originaram um debate entre os dois mais pequenos lá de casa.

Se é aceite que a fada dos dentes vem, durante a noite, buscar o dente que caiu e em seu lugar deixa alguma espécie de lembrança, o mistério entorna as razões para tão bizarro comportamento. Para que quererá a fada tais dentes?


O debate não foi longo mas permitiu alcançar uma conclusão unanime entre os dois. As fadas dos dentes precisam dos ditos para os entregar às bruxas, seres que como se sabe sobejamente adoram esse tipo de itens sórdidos, pois as bruxas trabalham para as fadas e estas pagam-lhes em dentes, com que as bruxas fazem as mais horripilantes sopas, base da sua alimentação. 

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ou comes a sopa ou chamo o Piaget


A sopa de legumes continua a ser uma prova de resistência familiar, de parte a parte.
A gestão das relações e dos poderes paternais passa sempre pelos pratos de sopa que devem ser comidos, segundo uns , mas que para outros devem ser aproveitados para travar mais uma batalha nessa grande guerra da afirmação pessoal e reforço da personalidade. Entre o desejo de "ser crescido" e a oportunidade de ser o centro das atenções, a segunda opção acaba por ter mais força e lá vem o "Não gosto desta sopa"". A solução imediata e que evitaria meia hora de birras e jogos do puxa-e-empurra seria dar-lhe a sopa à boca. Mas essa é uma cedência a que o poder paternal não está disposto a fazer.
Passa-se assim à fase da negociação, primeiro silenciosa, ao tolerar e ignorar a colher imóvel , depois mais ruidosa, ao relembrar as consequências que advêm de não comer a sopa. Finalmente, são acordadas as condições aceitáveis por ambas as partes. De um lado, a sopa já não sabe assim tão mal, mas é muita. Do outro, estabelece-se que quem "já" é capaz de comer sozinho não precisa de ajuda.
- "É muita sopa, não consigo comer tudo"
- Tudo bem, já comeste uma parte, come o que fores capaz.
- É muita sopa, não consigo comer tudo"
- "Então mais umas três colheradas"
Lá vão três colheradas a custo, e fica metade da sopa inicial no prato.
- "Já está." responde testando.
- "Não comes mais sopa?" e fica no ar a ameaça de terminar ali o diálogo, acrescida das naturais consequências de não comer a sopa: se já estás cheio não comes o resto do jantar, o que inclui a sobremesa...
- "É muita sopa, não consigo comer tudo", repete, disposto a prolongar as negociações.
- "e se fosse menos sopa? Conseguias?"
- "Sim", diz em tom de vitória. Finalmente uma cedência, percebe.
- Então e se fosse só uma tacinha de sopa? Já eras capaz?
- "Só uma tacinha, era" a vitória é certa e brilha-lhe nos olhos.
Vou então ao armário e tiro uma taça de sobremesa
- Uma tacinha como esta? Esta leva pouca sopa...
- "Sim, essa leva pouca sopa, assim era capaz! Mas esta do prato é muita!"
Despejo a metade da dose inicial de sopa que resta no prato que está à sua frente para a tigela, que fica cheia mas sem que sobre sopa no prato.
Ele sorri, vitorioso. Agora apenas tem uma tacinha de sopa para comer.
Do outro lado da mesa a mais velha abre a boca de espanto. Como é possível? Então ele não vê que a quantidade de sopa não mudou?
Não, ele não vê. Aos quatro anos ainda não se leu Piaget nem as suas provas de conservação dos líquidos...

Finalmente as rudimentares noções de psicologia do desenvolvimento que adquiri, com o mesmo esforço exigido a quem tem demasiada sopa no prato, revelam a sua utilidade. Servem para os fazer comer a sopa e um dia terem oportunidade de ler as provas do Piaget.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O que pensam as crianças sobre a arte? RESPOSTAS DAS CRIANÇAS

Tirado daqui: http://todacriancapodeaprender.org.br/o-que-pensam-as-criancas-sobre-a-arte-respostas-das-criancas/

Surpreendentes, inteligentes e incríveis respostas das crianças às obras de artes que mostramos a elas.
Há algumas semanas publicamos aqui uma chamada para que adultos perguntassem para as crianças o que pensam sobre algumas obras de artes que sugerimos.
Recebemos contribuições valiosas que ajudam a dar mais visibilidade ao pensamento infantil e sua riqueza.
Confiram abaixo:
arte1
Imagem 1: JAIME PITARCH
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Gustavo, 7 anos: “É uma cadeira mas é só um enfeite porque não tem as madeiras para sentar, a pessoa vai cair. Me deu medo.
Isadora, 6 anos: “Faltam 3 pernas! Se eu sentar eu caio!”
Olívia, 6 anos: “Quando sentar cai num buraco!”
Lívia, 6 anos: “É um assento engraçado! Como ela consegue ficar equilibrada?”
Philip, 7 anos: “É maluco, tem 4 pernas grudadas que parece um bambu! Foi um coala que montou isso!” .
Pedro Lucas, 5 anos: “Cadeira feita de galho de árvore, pra subir é só pegar uma escada e sentar.”
.João Gabriel, 7 anos: “Cadeira de bebê estragada.” .
Juliana, 5 anos: “É uma cadeira que alguém colocou uma só perna tudo junto. Quem sentar vai cair, a perna é muito fininha, não segura nem um bebê.”
Maria Clara, 7 anos: “A haste aumenta e o neném fica mais alto.”
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arte2
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Gustavo, 7 anos: “É uma bola na espuma do mar, mas ela também estourou e a espuma estava muito apertada e se espalhou, vai misturar e desmanchar tudo… quando a gente vai à praia?”
Philip, 7 anos: “Um ovo quebrado murcho!”
Isadora, 6 anos: “Um ovo dentro de uma esponja de tomar banho!”
 Olívia, 6 anos: “Um ovo vazando, explodindo!”
 Lívia, 6 anos: “Eu sinto que parece um cérebro!”
Guilherme, 6 anos: “Um ovo com água e espuma!”
 Pedro Lucas, 5 anos: “Ovo dentro da mamãe.”
 João Gabriel, 7 anos: “Nuvem de bolinhas de sorvete sabor creme ou chocolate branco.”
 Juliana, 5 anos: “Penso que é uma escultura parecida com chantilly. Fizeram com argila por dentro e depois pintaram. Todas as coisas que são assim, são feitas primeiro com argila… menos o computador.”
Maria Clara, 7 anos: “Três bolotas de sorvetes espremidas que formaram uma só.”
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Artist Rafael Gomezbarros’s 440 fibreglass ants, each 90cm long, take over part of the Saatchi Galle
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Gustavo, 7 anos: “É uma família de formigas, ele botou na parede pra gente poder ver como elas vivem no chão.”
Olívia, 6 anos: “As formigas estão descendo!” 
Isadora, 6 anos: “É um amendoim formiga por ai!”  .
Lívia, 6 anos: “Um amendoim que tem perna!”   .
Philip, 7 anos: “Penso que as formigas vão comer as pessoas!”
Pedro Lucas, 5 anos: “Imagem legal, várias aranhas presas pra não picarem.”
João Gabriel, 7 anos: “Família de formigas gigantes dentro do vidro. As que estão separadas estão perdidas.”
Juliana, 5 anos: “É uma exposição. O artista colocou formigas aí. Acho que o artista quer que a gente sinta coceguinhas.”
Maria Clara, 7 anos: “A menininha e a mãe estão no mundo gigante, onde tudo fica aumentado: Claro que eu sei que é uma imagem!”
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Gustavo, 7 anos: “Ah, eu já entendi, ele tá tentando botar os pedaços nos lugares certos mas ainda não conseguiu, tá quase… se ele vai conseguir? Não sei, mas eu consigo!”
 .Isadora, 6 anos: “Parece um homem com bolas no rosto, com partes do rosto dele!”
Olívia, 6 anos: “Parece a lente do óculos!”
 Lívia, 6anos: “Um homem cheio de olhos!”
Pedro Lucas, 5 anos: “Metade de cada pessoa com CDs no rosto.”
João Gabriel, 7 anos: “Vendo a pessoa da imagem com um binóculo estragado.”
Juliana, 5 anos: “Parece que a pessoa olhou no espelho com letras”.
Maria Clara, 7 anos: “O artista colocou as partes em círculo só pra gente ver mais de perto.”
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Imagem 5: SU BLACKWELL
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Gustavo, 7 anos: “As borboletas estão chegando, indo pra menina e vão ficar no vestido dela… pra sempre.”
Olívia, 6 anos: “Um fantasma e as borboletas indo nele!”
Guilherme, 6 anos: “Um vestido rasgando com borboletas!”
 Isadora, 6 anos: “Uma mulher sem cabeça voando!”
Lívia, 6 anos: “Uma moça sem cabeça e perna e as borboletas levando o vestido dela!”
 Pedro Lucas, 5 anos: “Mamãe que solta peixes.”
 João Gabriel, 7 anos: “As borboletas estão indo buscar perfume para perfumar o vestido.”
 Juliana, 5 anos: “Isso é um monte de borboletas voando do vestido de noiva porque a festa acabou”.
Maria Clara, 7 anos: “São pedaços do vestido voando porque eles não gostam de ficar no vestido.”

Esperamos mais colaborações!

Agradecimentos:
Luciana Mandina – Rio de Janeiro, RJ
Marcela Juliana Chanan – São Paulo, SP
Gabriela Bender – Curitiba, PR
Teresinha Nolasco – Viçosa, MG

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O futuro pertence às crianças. Hoje, já!

Chegamos tarde a casa, são já horas de jantar, o cansaço pesa-nos e não há energia para, além das tarefas obrigatórias ir cozinhar um jantar, mesmo que improvisado.
Num gesto de renúncia às tarefas domésticas apelei ao consenso do lar:

- Filhos, já é tarde, estamos cansados e temos restos no frigorífico. Importam-se de jantar o mesmo que ontem?

A mais velha acede, sem ter mesmo ouvido o que tinha sido perguntado. Mas o mais novo, também vitima do cansaço, liga o modo de birra reivindicativa:

- Eu não quero comer o jantar de ontem!!!

A coisa não vai bem, mas confiante na minha diplomacia apelo à cooperação e peço sugestões construtivas, esperançado que a alternativa apresentada seja simples e rápida…

- E então o que queres comer?

A resposta veio pronta e assertiva:

- O jantar de amanhã!


A lógica linear do miúdo - se o jantar e hoje é igual ao de ontem, quuero o de amanhã que é diferente - aliada à firmeza da posição, anulou qualquer possibilidade de resposta da minha parte. Derrotado, aceitei, esgotado, que o futuro pertence às novas gerações, capazes que são de exigir que o futuro seja hoje, agora, fazendo-nos pensar que no nosso tempo, quando tínhamos a idade deles, já éramos uns conservadores alinhados com o sistema e que se andámos a comer sopas e legumes, contrariados, apenas à nossa falta de visão e capacidade reivindicativa o devemos. 

Jantámos os restos, mas com redobrada confiança no futuro e um pouco menos de cansaço.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Libertem os quadros do Miró!


Como tem acontecido nos últimos anos lá na escola, também este ano os meninos e meninas da sala de jardim de infância do meu filho estão a trabalhar as artes plásticas. Desta vez escolheram um artista para recriar as suas obras e conhecer um pouco da história da sua vida.


Acontece que o artista escolhido, muito provavelmente pelo seu grafismo simples e abstracto, foi o Juan Miró. Pergunta para cá pergunta para lá e os meninos quiseram saber se podiam ir ver os quadros. "Onde estão os quadros do Miró?" Desconheço, mas adivinho a resposta a que chegaram, uns estão em Espanha na Fundação Miró e outros em França, em museus. Alguns até estão em Portgual, aqui mesmo em Lisboa, fechados num cofre e ninguém os pode ver. 
“Isso é que não pode ser!”, quem lá os pôs e com que direito?, os quadros são para serem vistos!, ai os egoístas! e vai daí, os meninos da sala de Jardim de Infância da escola do meu filho resolveram escrever uma carta ao Sr. Dr. Francisco Nogueira Leite, Presidente da Parvalorem a explicar que os quadros devem estar expostos onde os meninos e as outras pessoas os possam ver, porque o Miró não os pintou para ficarem fechados num cofre!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Um banco para as suas ideias

é este o actual slogan do Santander Totta, o que originou a questão do mais novo, a caminho da escola, ainda não eram oito horas...

- Quando é que vamos ao santartota?
- O quê? Não percebi, repliquei.
- Quando é que vamos ao santartota?
- O que é isso?
- É o banco santander, traduz a mais velha
- É um sitio para as ideias! retoma o miúdo.
- E para que queres ir ao Santander?
- Assim podias lá deixar as ideias más... responde-me ele, cheio de uma sabedoria que ultrapassa várias vezes o seu tamanho.
oooO pois, devia lá passar um dia destes... pensei, mas remeti-me ao meu silêncio.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Uma exposição atelier e um desejo


Num domingo de desencontros acabámos por ir ver a exposição da Margarida Botelho a propósito do livro Yara Iara, da colecção POKA POKANI

A Margarida esteve a viver um mês com os indios  kayapó, na floresta amazónica, recolheu experiências e imagens, e veio contar as histórias da sua aventura e do livro que dela resultou.

Quando os nossos planos para participar no atelier pareciam irremediavelmente furados, acabámos por poder estar à conversa com a autora.

Das aventuras da Margarida na Amazónia e do modo de viver dos índios a minha filha reteve algumas ideias e uma frase, memorizada e repetida com toda a propriedade: 

"As crianças índias aprendem livremente na natureza."

e um desejo: 

"Eu gostava que a minha escola fosse como a dos índios da Amazónia."

Mas filha, em portugal não há escolas como as dos índios.

"Então eu quero ir viver para a Amazónia."



quinta-feira, 13 de março de 2014

Se não sabe porque pergunta

Se não sabe porque pergunta?
É uma das "máximas" do João dos Santos. 
Ontem lá por casa houve mais um serão de "projectos", neste caso um projecto sobre as "numerações" utilizadas por várias civilizações antigas. Ao contrário de muitos projectos falhados, que redundavam em questões demasiado ambiguas, este avançou a bom ritmo. Não só ficámos a conhecer os caractéres utilizados pelos antigos egípcios e gregos, os maias os babilónios, mas ficámos a saber que utilizavam diversas "métricas" e os seus sistemas de numeração reflectiam diferentes preocupações. Ou seja "fartámo-nos" de aprender, ambos.
Mas independentemente do tema, houve algo que marcou uma diferença face às tentativas anteriores de "projectos" que versavam sobre temas como "A terra", "os Homens das cavernas", "a história do universo" etc... desta vez o tema não era novo, tinha sido preparado e era conhecido, o que permitiu fazer perguntas, condição fundamental para qualquer projecto. 
Parece coisa menor, mas foi a mais importante aprendizagem do serão de ontem: as respostas pouco importam, porque na sua esmagadora maioria já existem e só é necessário saber onde e como procurá-las.
O mais importante, o mais difícil, é saber fazer as perguntas. 
Alguém vá lá explicar isto ao Ministério da Educação e em particular ao Sr. Crato!

segunda-feira, 3 de março de 2014

Um sitio só para adultos tristes

A morte nunca é um assunto fácil de abordar com os miúdos. A nossa racionalidade e o nosso coração não são suficientes para explicar as razões e as emoções que estão envoltas num novelo escuro que faz doer, e as explicações acabam por ser dadas pelo decurso da vida, e da morte. É inevitável. E não parece existir forma de nos preparar para lidar com a morte, não há duas mortes iguais porque não duas pessoas iguais.

Perante a morte de um amigo próximo, além da dor existem os rituais que a nossa sociedade impõe e dos quais nós, lá em casa, optamos por ir reservando as crianças. Este domingo houve um desses momentos, um funeral a que a mãe iria, ficando eu em casa com as crianças.

O mais novo, que já na véspera se apercebera de movimentações pouco usuais na rotina doméstica, e provavelmente de conversas pretensamente discretas em torno do assunto, que ele na sua sabedoria de 4 anos não questionou nem se intrometeu. Mas a questão ficou lá a remoer e quis saber mais. 
Vendo a mãe a preparar-se para sair sozinha a um domingo de manhã, algo inusual, perguntou o que já sabia, validando as suas suposições e aproveitando para testar um adulto em áreas em que sabe serem frágeis.

Mãe, onde vais?
A um sítio só para adultos.
E quando eu for adulto também posso ir?
Podes, quando fores adulto podes.

Ah.... Mas acho que não vou querer, porque esse sitio é só para adultos tristes.






sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Segue o teu coração...

O título do post parece saído de um daqueles livros de auto-ajuda que forram as montras das livrarias mais comerciais, mas que, sinceramente, nunca me conquistaram a atenção. Agora desconfio que o mais novo, nas vésperas dos seus iletrados 4 anos, anda a lê-los às escondidas... (onde os terá arranjado, não sei...)

Mas vamos ao caso.

Hoje de manhã, tendo eu espirrado, enfim, com alguma sonoridade, sou de imediato repreendido com a seguinte frase, dita tal como está e com toda a cordialidade que as generalizações podem dar a um ralhete:

"Não gosto quando as pessoas espirram alto, porque o meu coração fica zangado."
Que ele dissesse, ò pai, assustaste-me, parece-me natural e linear... mas este argumento do coração desarmou-me e mais uma vez remeti-me a um silêncio seguido do devido pedido de desculpas.

Mas o coração do miúdo não despertou agora e já há algumas semanas que lhe parece dominar a vida, pois já me disse, em diversas ocasiões que o seu coração lhe mandava comer batatas fritas, chocolates e até gelados em pleno inverno. Na altura não acedi, mas agora que sei que o seu coração pode ficar zangado, tenho que rever a minha posição...

Acho que o coração do meu filho o levará longe. Disso não tenho dúvidas, embora as direcções que por vezes segue não só me supreendam como me deixam apreensivo.