Chegamos
tarde a casa, são já horas de jantar, o cansaço pesa-nos e não há energia para,
além das tarefas obrigatórias ir cozinhar um jantar, mesmo que improvisado.
Num
gesto de renúncia às tarefas domésticas apelei ao consenso do lar:
- Filhos,
já é tarde, estamos cansados e temos restos no frigorífico. Importam-se de jantar o mesmo que ontem?
A
mais velha acede, sem ter mesmo ouvido o que tinha sido perguntado. Mas o mais
novo, também vitima do cansaço, liga o modo de birra reivindicativa:
-
Eu não quero comer o jantar de ontem!!!
A
coisa não vai bem, mas confiante na minha diplomacia apelo à cooperação e peço
sugestões construtivas, esperançado que a alternativa apresentada seja simples e rápida…
- E
então o que queres comer?
A
resposta veio pronta e assertiva:
- O jantar de amanhã!
A lógica linear do miúdo - se o jantar e hoje é igual ao de ontem, quuero o de amanhã que é diferente - aliada à firmeza
da posição, anulou qualquer possibilidade de resposta da minha parte. Derrotado,
aceitei, esgotado, que o futuro pertence às novas gerações, capazes que são de exigir que o futuro
seja hoje, agora, fazendo-nos pensar que no nosso tempo, quando tínhamos a idade deles, já éramos uns conservadores alinhados com o sistema e que se andámos a comer sopas e legumes, contrariados, apenas à nossa falta de visão e capacidade reivindicativa o
devemos.
Jantámos os restos, mas com redobrada confiança no futuro e um pouco menos de cansaço.